segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Capitulo 4 - Preciso (muito) de ti... (Parte 1)


(Ruben)

Assim que a vi arrancar naquele táxi apercebi-me do enorme erro que tinha cometido e arrependi-me de imediato. Rsrsrsr, como é que ainda me deixo levar por aqueles olhinhos!, resmunguei. Voltei para dentro o mais rapidamente para tentar remediar o mal que tinha feito e espantosamente, o David estava muito divertido com a irmã da Anabela.

- David, preciso de falar contigo… - o David olhou para mim e levantou-se do sofá aonde se encontrava

- Que se passa Manz?

- Pois…digamos que deixei a Mena ir-se embora de táxi para casa… - se o olhar matasse tinha a certeza que estava morto – ela pediu-me tanto que não pude dizer que não. Além disso ela foi para casa…

- ‘Cê acha que ela foi p’ra casa? É claro que não! – ele pegou nas chaves do carro e na carteira e rapidamente saiu da minha vista

(Madalena)

Aquela viagem entre a casa do Ruben até ao hospital demorou muito mais tempo do que esperava, pelo menos era o que parecia na minha cabeça. A vontade de acabar com aquela dúvida ridícula estava-me a levar á loucura. Para o tempo passar mais rápido encostei a cabeça ao vidro e fechei os olhos. A face do David invadiu a minha mente mas rapidamente se transformou naquela imagem entre ele e a Inês. Abri os olhos e tirei o meu telemóvel da mala para ver a imagem de fundo que tinha no ecrã. A imagem retratava a doce e genuína amizade que nutria pelo David, a paisagem atrás de nós era de um campo de futebol, no Brasil. Será que o estou a perder? Ele vai deixar de gostar de mim e eu não vou suportar essa ideia…

- Menina, chegamos! – despertei dos meus pensamentos assim que o senhor taxista falou comigo. Tirei da minha mala a carteira e paguei-lhe o valor da viagem. 

Encaminhei-me para a entrada do hospital a passos vagarosos observando a correria de alguns médicos e a extrema calma de outros tentando transmitir essa mesma calma aos familiares dos doentes. O cheiro típico a hospital entrou-me pelo nariz a dentro mesmo antes de ter chegado ao interior do hospital. Que cheiro nauseabundo! Odeio este cheiro…, comentei para mim mesma. Para além do cheiro, a própria áurea hospitalar era negativa, mas também não era para mesmo. O rosto das pessoas que se encontravam na sala de espera e perto da recepção não era propriamente de contentes por estarem ali, aliás, o desespero e a angústia eram os sentimentos predominantes, e claro, a esperança, que é sempre a última a morrer. Desviei-me das pessoas delicadamente que se encontravam entre mim e a recepção mas desta vez com o passo mais acelerado. Sim, aquele aperto no coração que não conhecia o porquê e que me prendia a respiração estava a acontecer com maior intensidade devido á aproximação temporal da resposta que tanto ansiava. E que não conseguia encontrar o porquê desta mesma. Haviam duas recepcionista no balcão, uma delas estava a atender um casal por isso dirigi-me para a outra.

- Boa noite! – comecei. Por segundos, ou minutos, nem eu própria sei, desejei voltar para trás, não queria saber se aquele rapaz estava bem ou não. Havia tantos acidentes diariamente porque é que me haveria de interessar por aquele em especial? Era uma idiota por ainda tentar idealizar na minha cabeça uma família perfeita onde estivesse inserida. Mas antes que pudesse continuar a alimentar um lado obscuro do coração ou se calhar da cabeça, detive-me num choro de uma rapariga. A poucos metros de mim estava um rapaz e uma rapariga sentados, o rapaz não devia ter mais de uns quinze anos e a rapariga uns onze, em que a rapariga estava visivelmente perturbada. O rapaz, presumi ser irmão dela, estava a abraça-la e tentava transmitir paz aquele coração frágil de tanto chorar. As lágrimas formaram-se aos poucos nos meus olhos num grito silencioso de raiva por duas pessoas terem-me posto no mundo e de me terem privado de um gesto tão simples como um abraço de um irmão ou irmã…

- Desculpe, a senhora sente-se bem? – acordei do meu pesadelo de memórias desenterradas e finalmente tive coragem de falar do que me trouxera até aquele local.

- Sim, sim. Desculpe. – limpei as lágrimas e prossegui - Gostaria de saber qual é o estado clínico de Miguel Alves? Ele teve um acidente de automóvel esta manha…

- Só um momento. – pegou rapidamente no rato de computador e procurou o nome que acabara de prenunciara. Rapidamente encontrou o nome e depressa respondeu – O doente Miguel Alves foi transferido para o hospital São João no Porto a pedido dos pais. Saiu á pouco menos de duas horas.  

- Oh… - era como se me tivessem espetado centenas de agulhas no coração, tinha estado tão perto e agora tão longe. – Bem, obrigada pela informação.

Virei as costas e uma sensação de abandono voltou a apoderar-se de mim lentamente. Sempre que criava alguma esperança à minha volta haveria sempre de correr mal e consequentemente punha o meu coração a latejar de dor. Sentei-me num dos bancos da sala de espera, naquele momento tudo o que menos queria era ir para casa. Deixei o meu corpo cair um pouco para a frente e apoiei a cabeça com a ajuda dos braços nas pernas. Fui inundada de pensamentos negativos na minha cabeça durante um tempo infindável, ficando naquela mesma posição até os meus cotovelos doerem. A dor nos cotovelos fez-me mudar de posição e encarar uma menina que estava mesmo à minha frente.

- Gosto muito do teu cabelo! É da cor do Sol que desenhei! – disse a menina sorridente – o Sol não costuma estar triste…está sempre alegre! – não consegui evitar sorrir correspondendo ao sorriso genuíno e puro dela

- Às vezes o Sol é tapado pelas nuvens cinzentas… - a menina ficou muito séria a olhar para mim pensando no que iria dizer, mas entretanto a mãe chamou-a e ela teve que ir embora – Adeus… - disse ela abanando também com a mão.

Por incrível que pareça fiquei a pensar no que a rapariga tinha acabado de dizer…porque é que as coisas não são tão fáceis como imaginamos na infância? Porque é que temos de complicar? Porque é que não podemos apagar a dor tal e qual quando desenhava…Porque é que a vida não é como o Sol, sempre tão reluzente e perfeito?. As respostas, como é claro, não as sabia e também não era dentro do hospital que iria descobrir. Finalmente saí do hospital disposta a ir para casa sozinha mas os meus desejos foram travados pelo David que estava encostado ao seu carro à minha espera. Não queria discutir ou falar naquele momento por isso limitei-me a fazer o que os olhos dele me pediam, entrar naquele carro!
Assim que entrei dentro daquele carro percebi que ele estava zangado comigo por causa da música alta que tinha posto a tocar. Ele sabia o quão odiava ouvir música assim tão alta e naquele momento, um mínimo ruído fazia explodir a minha cabeça, tal e qual como na “ressaca”.  Aguentei aquele barulho por alguns minutos mas cheguei ao ponto de ruptura.

- David… - as minhas palavras foram quase ditas em surdinas…não conseguia falar, o olhar que me transmitia de rompante era de mágoa. Ele estava magoado comigo, raramente tirava os olhos da estrada e nesses casos nem sequer era para mim. – David… - voltei a chamar desta vez de forma mais audível mas nem a sim cedeu. Odiava quando as pessoas faziam de conta que não existia, fazia-me sentir ainda mais solitária e invisível. Desliguei o rádio e peguei no travão de mão… - Pára o carro imediatamente ou eu puxo o travão de mão e não estou a brincar! – olhou para mim e fez o que lhe pedi – Podes-me explicar o que se passa aqui? Isto tudo é por não te ter dito que ia ao hospital? Era importante…

- Eu sei que era muito importante p’ra você mas custava assim tanto contar p’ra mim? – ouvir aquelas custou-me muito, afinal de contas podia ter evitado tudo aquilo se não tivesse tido um ataque de raiva inesperado por ele ter estado tão perto da Inês -  Bastava dizer que ‘cê vinha aqui e eu fazia companhia p’ra você!

- Eu sei mas tu estavas entretido com a Inês que não quis incomodar…parecias tão feliz com ela que achei melhor não te maçar com os meus problemas! Além disso não preciso de nenhum guarda-costas sempre atrás de mim… - respondi secamente e sem vontade de continuar ir por aquele caminho de conversa

- ‘Cê já ouviu bem o que falou? – esta, porventura, estaria a ser a primeira espécie de discussão que estaria a ter com o David. Nunca nos tínhamos desentendido mas agora….algo tinha mudado! - Porquê que está agindo dessa maneira agora? ‘Cê nunca se importou em me chamar seja aonde estiver! Porque é que agora é diferente?

- Não é diferente…está tudo na mesma! E por favor vamos parar com esta  conversa…

- ‘Cê me ‘tá mentindo, eu conheço você melhor que ninguém! Nunca mentiu p’ra mim…algo tá diferente com você! Madalena…

- David… - supliquei para que ele parasse de bombardear perguntas que nem eu sabia responder

- Foi alguma coisa que fiz p’ra ‘cê me falar assim desse jeito? Eu não ‘tou entendendo…

- David não tem nada a ver contigo…tem a ver comigo..

- Então me deixa ajudar…

- David, leva-me a casa! Eu não quero mais conversar nem discutir nem nada…quero apenas chegar a casa na paz do silêncio! – olhei pelo retrovisor e a policia tinha acabado de estacionar mesmo atrás de nós -  A policia vem aí….só faltavam isto agora.

- Boa noite senhores condutores - disse assim que o vidro do carro desceu e se pode ter uma conversa com o senhor agente

- Boa noite! – respondeu o David

- Os documentos por favor… - pediu o senhor agente. O David inclinou-se para o meu lado e abriu o porta-luvas para tirar de lá os documentos do carro e a carteira dele. O senhor agente observou os documentos e devolveu-os – Sabem que não podem estar aqui parados sem alguma sinalização…

- A gente sabe…já vamos indo senhor agente! – respondeu prontamente – boa noite!

- Boa noite e uma boa condução!

Não voltei a falar e ele embora agora tenha olhado mais vezes para mim durante o resto da viagem também não teve coragem de falar. O silêncio imperou durante todo o caminho fazendo-me reflectir sobre a discussão que tivera com o David. Mas antes que tivesse tempo de dizer alguma coisa já tínhamos chegado a minha casa. Retirei o cinto de segurança e saí do carro juntamente com ele. Abri a porta de minha casa e entrei para dentro ficando à porta o David encostado à parede olhando para mim. Tivemos simplesmente a olhar um para o outro, sem palavras ou gestos que pudessem ser bruscos demais para aquele momento. Ele estava iluminado pela luz lunar, fazia realçar toda a sua beleza, todo o seu espírito, toda a sua perfeição deixando petrificada no olhar dele. Até que ele quebrou esse mesmo silêncio.

- Preciso de dizer uma coisa p’ra você…

Peço desculpa por ser tão pequeno mas o próximo será maior!
Espero que gostem!
D.M