sábado, 22 de outubro de 2011

Capitulo 2 - A força do destino ou apenas o desejo do coração







Depois de sair das quatro paredes que delimitavam a casa da Madalena, David nem sabia o que pensar e os seus sentimentos aumentavam dia para dia a uma velocidade estonteante. Sentia-se cada vez mais sem espaço de manobra, entre a espada e a parede. O sorriso dela, o olhar, os pequenos pormenores que só ela era capaz de fazer levavam-no a ter a certeza dos seus sentimentos por ela. Queria acima de tudo, vê-la feliz e faria o impossível por isso nem que se tivesse de prejudicar. Depois de entrar no carro decidiu telefonar ao Ruben

- Ei Manz, preciso de falar com você! – do outro lado, Ruben andava a preparar o jantar com a ajuda da sua mãe

- Não pode esperar por logo? – pediu – É que estou um bocado ocupado agora, estou a preparar as coisas para logo á noite. Não te importas pois não?

- Não, claro que não. Força aí, a gente chega aí cedo! – Ruben percebendo o tom de voz do amigo parou o que estava a fazer e prestou-lhe a devida atenção

- Pronto. Já percebi que há aí coisa…conta aí! Não, espera, deixa-me adivinhar, é sobre a menina Mena? – o silencio do David e o seu suspirar desconsolado denunciou-o de imediato – Mano, quando é que decides de uma vez contar-lhe o que sentes? Eu sei que é um risco, mas o amor não é isso mesmo, escolhas arriscadas?

- Eu sei isso tudo mas…

- Mas qual mas qual quê! Olha eu tenho mesmo que desligar porque senão a Dona Anabela vai-me dar na cabeça! Por isso pensa bem no que queres e no que é realmente importante para ti, se não tiveres preparado para assumires o que sentes, como tu dizes, deixa rolar e vê o que acontece!

- Tá bem Manz. Até já…  

(…)

- David já desço! – disse Madalena ao auscultador. Foi buscar rapidamente a sua mala e olhou-se mais uma vez ao espelho para ver se estava tudo no sítio. Assim que saiu de casa estava o David encostado à porta do pendura a olhar para o desconhecido, bastante nervoso ainda – já estou aqui criatura! – disse-o resignada por ele ainda não a ter visto. Assim que ele põe os olhos em cima dela não os conseguir mexer para mais lado nenhum – David? – ela passou as mãos em frente dos olhos dele acordando-o daquele estado de dormência

- Ah…vamo?

- Se saíres da frente da porta do carro, agradecia – ele abriu a porta e deixou-a entrar – está tudo bem contigo? – perguntou assim que David entrou dentro do carro – Estás um bocado estranho.

- ‘Cê ‘tá imaginando coisas nessa sua cabecinha! Eu é que ‘tava pensando numa coisa do treino e não estava á espera que ‘cê aparecesse assim tão de repente!

- O que aconteceu no treino? – perguntou com alguma curiosidade e um pouco de preocupação

- É a nova táctica pró próximo jogo, não se precisa de preocupar não!

- Eu não me preocupo mesmo, já sei que vocês vão ganhar! Confiança plena em vocês e no vosso trabalho! – Ela era uma adepta fervorosa da equipa encarnada e não perdia nenhuma oportunidade para os elogiar, tantos nos maus momentos como nos bons

- É mesmo desse apoio que a gente precisa…confiança dos nossos adeptos! – antes de poderem continuar com a conversa o telemóvel da Madalena começou a tocar

(Madalena)

- Estou… - disse assim que atendi a chamada do número privado

- Olá Mena! Sou eu a Inês, a da faculdade… - assim que ouvi a voz dela reconhecia de imediato

- Olá Inês…então já estás melhor dos pés? – perguntei com um sorriso nos lábios – ou ainda não melhorou? – embora fosse ela a queixar-se mais dos pés, os meus também me doíam bastante e os saltos que trazia estavam a fazer das suas.

- Já melhorou, graças a Deus! Acho que não aguento outro dia assim mas pronto, tem que ser. Olha, telefonei-te apenas para não te esqueceres de mim porque gostei muito de te conhecer! – assim que a vi na faculdade tive de imediato uma empatia com ela, não sabia explicar porquê mas tinha.

- Eu também gostei de te conhecer, acho que nos vamos dar bem! – respondi sorridente

- Sim, eu também! Bem, é tudo…até amanha!

- Até amanha!

Assim que desliguei a chamada o David teve que parar o carro na estrada pois havia uma enorme fila de carros. Liguei o rádio para perceber se noticiavam algum acidente na estrada em que estávamos, e assim que se começou a ouvir a voz do locutor não demorou muito para falar sobre o acidente. Recebemos informação da ocorrência de um acidente entre dois ligeiros na estrada (?) perto da rotunda que dá acesso à segunda circular sentido norte-sul. Ainda não se pode apurar se existem mortos mas pelo menos um ferido grave encarcerado está a ser retirado do automóvel depois de algum tempo de desencarceramento por parte dos bombeiros. Esperamos mais informações… Algo não estava bem, o meu coração diminuía, a cada batida, a sua frequência, um formigueiro estranho avançava desde os meus pés subindo pelas pernas parando apenas no coração com uma grande dor.

- Vou ligar ao Manz que a gente vai chegar atrasado!

Por momentos a minha atenção voltou-se para a mão do David que se dirigia ao telemóvel dele mas rapidamente voltou para o acidente. Enquanto ele falava com o Ruben disse-lhe que ia ver o que se tinha passado, ele abanou a cabeça negativamente mas eu abri a porta e saí á mesma do carro. Assim que comecei a andar, o meu corpo parecia que estava preso ao chão, um medo arrepiante que percorria todo o meu corpo, fazia-me ter receio do que pudesse encontrar. Algo que não compreendia, de todo, era o facto de aquele simples acidente me estar a perturbar assim tanto. As pessoas que estavam dentro dos carros olhavam para mim assim que passava pelos seus campos de visão. Ao longe pude começar a reparar no fumo que saia dos carros, o que significava que estava cada vez mais perto do acidente. O meu coração quase que já não tinha força para bombear o sangue para o resto do corpo, os meus pés apenas se arrastava pelo chão até ao local do acidente.

Havia dois carros completamente destruídos pelo choque e pelo consequente incêndio que daí proveio. Um senhor, que depreendi ser um dos condutores com idade por volta dos trinta, estava sentado na ambulância a ser assistido por uma equipa média. Enquanto o outro condutor estava a precisar de enormes cuidados por parte de outra equipa média. Os Guardas da Unidade de Transito estavam a falar ao pé de mim e pude ouvir um deles a falar para o seu destacamento. O condutor do Ford Fiesta azul está livre de perigo, tem trinta e dois anos e dá pelo nome de Manuel Gonçalves, tem apenas algumas escoriações, o teste do álcool deu 0.00 g/L. Já o condutor do Fiat 500 vermelho, pelo que pudemos verificar, tem vinte anos, chama-se Miguel Alves e está em estado grave. Vai ser transportado para o Hospital São Francisco Xavier e aí serão feitos todos os testes necessários para averiguar se conduzia sob o efeito do álcool… Assim que ouvi o nome do rapaz que estava deitado na maca, o meu coração parou momentaneamente. Não sentia as minhas pernas nem o meu corpo. O meu coração mirrou ao ver o jovem a ser transportado para a ambulância em maca com ajuda de dois bombeiros.

A curiosidade das pessoas fez com que saíssem do carro e fossem ver o que estava a acontecer. Pobre rapaz, com apenas vinte anos e está em perigo de vida!, disse uma senhora que estava ao pé de mim. Estes jovens de agora não se sabem comportar, muito provavelmente deve ter bebido, estes jovens não têm responsabilidades, disse-o outra pessoa. Ainda não se sabia as causas do acidente mas as pessoas já especulavam e atiravam culpas ao jovem. Por vezes a sociedade podia ser muito cruel, aliás, até em demasia. O trânsito estava a ser desviado pela via da esquerda, agora com mais rapidez, pois já podia vislumbrar perto de mim o carro do David. Voltei novamente para o carro angustiada sem perceber o porquê do acidente me afectar tanto.   

- Nossa! Que acidente! – disse o David assim que entrei no carro – há algum morto? – só de pensar nisso, ou até pôr essa possibilidade em questão fazia-me desejar sair dali, evaporar, desaparecer! – Mena o que se passa?

Abracei-o, não havia forma de controlar. Tinha um medo abismal e estranhamente doloroso com o que pudesse acontecer aquele rapaz que estava ali. Seria o facto de ele ser jovem e por ter a vida toda pela frente? Ou porque tinha o mesmo apelido do que eu? Por poder ser família e eu não saber… Assim que pensei em tal hipótese desejei nunca me ter lembrado dela pois só trazia ainda mais sofrimento. Fazia-me lembrar os meus pais e o que poderia ter vivido sem a ausência deles.

PIIIIIIIIIIIIIIII

O barulho das buzinas fez-me largar o David e ele arrancou com o carro. Olhei pelo vidro e pude ver o local do acidente enquanto o carro andava, o jovem já estaria na ambulância e esta devia estar prestes a partir. Assim que deixei de ver o acidente encostei a cabeça ao vidro e tentei acalmar as ideias que saltitavam na minha mente.

- Mena… - o David chamou-me mas eu não respondi – Mena… - voltei a ouvir o meu nome mas fiz de conta que não estava a ouvir nada – Mena fala p’ra mim, o que se passou? Conheceu alguém no acidente? – olhei para ele e ele estava a variar a sua atenção tanto na estrada como em mim – ‘Cê me pode dizer o que se passou ou vou ter que parar o carro!

- Não faço a mínima ideia de quem sejam…apenas sei que existem dois feridos, um com trinta e dois anos livre de perigo e outro com vinte que está…que está em perigo de vida – disse com algum custo – não sei porque é que me está a afectar tanto mas…mas, sei lá, não faço ideia do que se está a passar e porque é que só me apetece chorar – Entretanto já tínhamos chegado a casa do Ruben, ele desprendeu o cinto depois de desligar o carro e olhou para mim

- Anda cá! – ele puxou-me para ele e deu-me um beijo na testa seguido de um abraço forte – isso vai passar vai ver! Existem pessoas mais sensível a esse tipo de acidente e deve ter sido por isso que ficou desse jeito meio com medo

- Achas?

- Tenho a certeza moça! ‘Cê vai ver que isso já passa assim que vir a cara do Manz esfomeado – disse a rir e também não pude deixar de rir com tamanha visão do Ruben esfomeado – Mas se preferir eu levo você de novo a casa e explico tudo ao Manz, ele não se vai importar!

- Não David, este jantar é importante para o Ruben, não quero faltar de modo algum por causa de uma parvoíce da minha cabeça.

- Não é parvoíce, ‘cê não tá bem, eu sinto! – eu dei-lhe um beijo na cara e de seguida segurei na mão dele

- Não te preocupes…posso não estar bem agora mas assim que vir a cara do Ruben de desespero por causa do nosso atrasado, vou ficar lindamente, acredita! Vamos? – fiz um enorme sorriso tentado tranquiliza-lo

- Como é teimosa moça! Consegue sempre me dar a volta né? – acabei por lhe dar outro beijo e assim que saímos do carro respondi

- Faço por isso!

Fomos em direcção à entrada da casa do Ruben e tocamos á porta, de dentro já se ouvia muita movimentação e assim que tocamos podemos ouvir a voz do Ruben ao berros a dizer que vinha abrir a porta.

- Aleluia pessoal! – disse assim que abriu a porta – estava a ver que tinha que ir fazer outra estrada para vocês chegarem a horas decentes! Anda uma pessoa a preparar um jantar tão importante como este e estas duas alminhas á minha frente tinham que estragar o programado…

- Eu não disse p’ra você que ele tava esfomeado… - disse o David super divertido para mim – E você continua aí especado na porta? Assim é que a gente nunca mais entra…

- Que engraçado que tu me saíste! Entrem lá…

Entramos dentro de casa e fomos para a sala. Assim que chegamos, eu nem queria acreditar no que os meus olhos me estavam a mostrar. Era um sonho…

Obrigada pelos comentários, são um grande incentivo!!
Espero que gostem..
Dé 

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

1º capitulo - A nova pintura (Parte II)




Madalena andava entusiasmada com a nova perspectiva de vida. Ideias imergiam a um ritmo frenético na sua cabeça para as paredes da sala, com tamanha informação já a circular pegou rapidamente no seu caderno de desenho e pôs as ideias no papel. Em poucos minutos já tinha uma dúzia de folhas completamente preenchidas e ainda a magicar ideias novas. Tudo lhe saia com uma naturalidade que nem ela se apercebia da rapidez que desenhava. Enquanto isso, David e Ruben iam a discutir a caminho dos treinos a prenda para a Madalena.

- Já disse que ela vai gostar! Conheço-a tão bem como a palma da minha mão! – Ruben gesticulou com os braços mas o David não pode ver porque estava a conduzir – ouve o que te digo, ela vai gostar!

- Manz, ‘cê não tá percebendo nada do que estou dizendo! – disse frustrado com a tamanha lentidão de compreensão do amigo – Eu sei que ela vai gostá, mas não é esse o problema! Ela nunca irá aceitá a prenda…

- Pode não aceitar á primeira mas aceita á segunda…ou á terceira – Ruben também estava um pouco reticente mas queria arriscar á mesma o presente – Ela merece isso e muito mais…já sofreu demais para apenas dezoito anos! 

- Não sei…a gente pode ainda pensar noutra coisa! – tentou mais uma vez dissuadir o amigo mas foi inútil

- Confia em mim, ela vai amar! E tu? Já te decidiste se lhe vais dar o que compraste no outro dia? – David demorou um pouco a responder por isso entreviu rapidamente – pronto, não precisas de responder porque já sei a tua resposta!

- Como ‘cê sabe? P’ra sua informação vou lhe dar sim!

- A sério? Bem até que enfim que te decidiste… - Ruben fez uma pausa antes de prosseguir - …e vais finalmente assumir o que sentes ou isso ainda vai esperar para depois? – Rúben tinha á pouco tempo descoberto a paixão secreta do David pela Madalena, algo que suspeitava mas nunca pensou que fosse verdade.

- Manz ‘cê tá louco? Claro que não…ainda nem sei como é que lhe vou entregá o presente quanto mais falá!

- Estás a gozar comigo certo? – a expressão do Ruben era de uma evidente desilusão, embora não soubesse se o amor era correspondido ao não, preferia ver o amigo a arriscar do que a ficar simplesmente a observar – Eu desisto! Se não queres dizer não digas! Mas se depois ela arranjar um namorado não venhas para cima de mim queixares-te de que devias ter dito alguma coisa! – David nem respondeu, estava demasiado inseguro, não com o que sentia porque isso já era bastante óbvio, mas sim com a reacção da Madalena.

Enquanto eles estavam nos treinos a Madalena foi até ao Estádio da Luz para tratar do contracto que iria assinar para trabalhar na Benfica TV. Iria fazer trabalho de jornalismo em especial incidência, com a equipa de futebol aonde iria seguir a equipa para todo o lado. Embora a sua avó no inicio não tenha achado grande piada ao facto de ir aparecer na televisão, acabou por concordar. Depois de tratar de todos os pormenores voltou para casa e ficou á espera dele.

Flashback on

(Madalena)

Estava a desenhar umas coisitas para a prenda do David quando me assombram inquietações sobre os meus pais. Por muito que tentasse perdoar os meus pais para nunca mais pensar neles, eis que dúvidas e pesadelos me tornam tão pequenina que só me apetece desaparecer. Desta vez, as dúvidas recaíam sobre o meu talento para o desenho, perguntas como “será que a minha mãe ou o meu pai também têm este talento?” ou “será que eles são pintores?”. Mais uma vez, tinha inúmeras perguntas sem direito a respostas. Por muito que tentasse “espremer” a minha avó ela não se “descosia” e acaba sempre por dizer “quando chegar a altura logo saberás!”. Mas será que eu não tinha o direito de pelo menos ter algumas notícias sobre os meus progenitores? E ao mesmo tempo tinha receio de descobrir algo que me pudesse magoar, algo que a minha avó tentava esconder a todo o custo. Mesmo assim deixei-me levar pela curiosidade e fui tentar obter resposta.

- Avó? – bati á porta do quarto dela e do outro lado ouvi um “sim” abrindo de imediato a porta – Como está? Humm…estou a ver que anda a fazer das suas! – a minha avó sempre gostou de escrever e naquele preciso momento estava a ter um dos seus “devaneios artísticos”, como ela gosta de chamar.

- Não digas tolices! Achas que uma pessoa com a minha idade pode fazer malandragens? – ela sorria como sempre o fazia mas desta vez com um sorriso malandro. Tinha pousado o lápis e concentrou toda a sua atenção na minha pessoa

- Com certeza! Nunca pensaria tal coisa de si! – sentei-me na beira da cama de forma a poder vê-la – ham…tive a pensar…aliás, tive a pintar e…sabe acha que me pode contar se…bem… - por muito que tentasse encontrar as palavras ideais para falar sobre os meus pais parecia que nenhuma era suficientemente elucidativa do que estava a sentir. Por vezes as palavras tomavam valores sentimentais que não eram aqueles que queria demonstrar e por vezes, mostravam um lado mais frio que não era de todo, o que sentia – Eu só queria saber se me pode dizer se os meus pais têm a mesma paixão pela pintura que eu… - os olhos da minha avó mostravam que ela já estava á espera do tema da conversa, e acima de tudo, já sabia quais eram as perguntas que flutuavam na minha mente. Ela levantou-se da sua cadeira e foi-se sentar ao meu lado, abraçou-me e depois de alguns minutos de silêncio, finalmente falou.

- Perguntei-me várias vezes quando é que me irias perguntar isso…até demoraste mais tempo do que estava á espera. Penso que foi por causa do medo que tens em descobrir seja o que for… - ela voltou a levantar-se mas desta vez dirigiu-se até á janela do quanto, dava para ver nos seus olhos que aquele assunto a magoava muito e fez-me sentir muito mal por trazer más recordações

- Desculpe…não precisa de responder! Eu é que sou uma parva…ainda sonho com parvoíces que sei que nunca se irão recordar!

- Tu não tens culpa… - ela olhou para mim com os olhos vidrados – a tua mãe…a tua mãe tem um jeito natural para o desenho como tu o tens! – quando a minha avó prenunciou o nome da minha mãe, uma alegria inexplicável invadiu o meu coração. Vezes sem contas pensava no que teria em comum com os meus progenitores, as fotografias que tinha deles eram meramente um vislumbre de algo que queria muito ao meu lado.

- A sério? – finalmente conseguia algo da boca da minha avó sem ser “quando for a altura de saber saberás!”. Toda aquela excitação levou-me a perguntar mais coisas… - E como é que eles estão…? – a minha avó olhou para mim e logo percebi que não iria saber mais nada

- Quando fizeres os dezoito anos vais ter todas as respostas para as tuas perguntas – já esperava por respostas à demasiado tempo, e isso estava a deixar-me os nervos em franja com tamanho secretismo –  Só quero que me prometas uma coisa…

- O quê avó?

- Que perdoes os teus pais…. – era a primeira vez que ela falava em tal coisa em dezassete anos da minha existência. Percebi de imediato que ela queria muito que eu fosse feliz e acima de tudo, que não tivesse problemas com o passado - Eu sei que não existe nenhuma justificação possível para o que fizeram mas…

- Eu sei avó… - ouvir, sequer, falar em perdoar duas pessoas que me fizeram sofrer durante toda a minha vida, estava longe de se concretizar. Por muito que, por vezes seja atacada por uma vontade louca de saber como eles são, o que fazem, se estão bem, tudo isso não passa disso mesmo, de um simples momento. Depois desse momento é só raiva e frustração… - lamento mas não o consigo fazer. Seja qual fores as justificações que tenham, um filho é sempre um filho, um ser humano por quem eles deviam ter tido mais consideração quando decidiram abandona-lo no mundo!

Flashback off

A campainha estava a tocar e fê-la despertar para a realidade, saltou do sofá e foi abrir a porta de casa. Á sua porta encontrava-se já o David que estava há um bom bocado à espera que a Madalena abrisse a porta.

- Já ‘tava aqui á um tempão a tocar! – resmungou sorrindo ao mesmo tempo que entrava dentro de casa. Madalena ainda estava meia aluada com os seus pensamentos transparecendo alguma insegurança para fora  – aconteceu algo?

- Não não! – elevou as mãos à cara numa tentativa de a fazer acordar daquelas memórias passadas – Estava só no meu momento de pairar na Lua! Desculpa… - ela fez uns olhinhos de arrependida levando quase à loucura os sentimentos do David

- Só desculpo com uma condição… - deixando a Madalena completamente curiosa – ‘cê tem que me dar um grande beijão!

- Olha-me este! Hoje estás muito mimoso mas está bem! – ela pôs-se em biquinhos de pés para conseguir chegar até ele mas o David estava virado para a brincadeira e por muito que a Madalena tentasse, não conseguia chegar ao rosto dele – olha lá oh grandalhão! Foste tu que pediste o beijo não eu! – ele para a fazer parar pega nela ao colo fazendo-a resmungar – põe-me no chão David!! Hoje estás mesmo chatinho!

- ‘Cê não me consegue resistir moça! – ele pô-la no sofá da sala e deu-lhe um beijo na testa – então qual é o assunto assim tão urgente?

- Agora já não sei se te quero contar, se calhar vou ligar ao Ruben e conte-lhe primeiro! – Madalena levantou-se do sofá e dirigiu-se até ao telemóvel no intuito de telefonar ao Ruben mas foi interrompida pelo David

- Vai, conta p’ra mim! Tou a pedir… - ela olhou para ele e acabou por ceder ao pedido do amigo que tão lhe carinhosamente lhe pedia para contar o segredo

-  Vou voltar a pintar!!! – disse-o com um enorme sorriso nos lábios

- A sério? – David ainda estava meio aparvalhado com a novidade, o que mais queria era poder voltar a vê-la desenhar novamente. Por momentos formou-se um enorme silencio devido à felicidade e espanto do David mas pouco tempo depois, já ciente da excelente novidade, falou –  Tou tão contentão que nem sei o que diga! Anda cá moça!

Madalena rendeu-se ao abraço dele e pela primeira vez sentiu algo que não estava á espera. A sua cabeça estava no peito do David devido à diferença de alturas ser bastante considerável, e estava a sentir os batimentos do coração bastante mais acelerados do que era habitual para ele. Passou-lhe por momentos na mente, que ele pudesse sentir mais alguma coisa, e o seu coração reagiu de imediato aquele pensamento aumentando drasticamente os batimentos cardíacos e ficando bastante corada. Tão depressa aqueles pensamentos apareceram como os fez desaparecer mas o seu coração não acalmava. Afastou-se um pouco dele e olhou-o nos olhos, algo estava diferente, via um brilho diferente, algo que nunca tinha visto ou sentido. Afastou-se de vez e tentou tirar aquelas ideias absurdas da cabeça. Enquanto as dúvidas eram implantadas na mente de Madalena, David continuava a desfrutar do máximo tempo que podia estar com ela ao mesmo tempo que lutava contra o seu interior, de a poder beijar, de poder dizer-lhe tudo o que sentia. Acima de tudo, tinha medo do desconhecido, tinha medo de estar a embarcar em algo que era só fruto da sau imaginação e perder a pessoa mais importante da sua vida.

-  E o que ‘cê vai pintar primeiro?

- Tu! – respondeu ainda um pouco atordoada mas depressa voltou ao estado normal – Isso mesmo, tu senhor David!

- Porquê eu?

- Em primeiro lugar porque o Ruben ficaria demasiado convencido se fosse ele o primeiro, além disso não lhe quero arranjar problemas com a namorada nova! Em segundo porque quero que sejas tu! Em terceiro porque eu quero-te a ti. Em quarto porque és tu…espera, essa já repeti…ham…porque sim e pronto! Aceitas ou não? – David estava extasiado com a possibilidade de ser pintando por ela

- Só com uma condição! ‘Cê tem que me por bonitão ouviu? – ao mesmo tempo que lhe apertava as bochechas, algo que Madalena odiava – senão não deixo!

- Que gracinha senhor David! – ao mesmo tempo que desembaraçava das suas bochechas as mãos dele - Tu já és bonito de natureza, nasceu contigo, por isso é praticamente impossível fazer-te parecer feio!

- ‘Cê não pode dizer uma coisa dessas assim…eu fico sem jeito e todo vermelhão! – David tinha corado mas Madalena nem se tinha apercebido

- Por amor á Santíssima! Tu deves ouvir elogios de milhares de fãs todos os dias, a todos os minutos, por isso não disse nada de mais, só aquilo que ouves constantemente! Mas se te incomoda eu começo a achar-te feio o que me dizes?

- Isso também não quero! Gosto quando ‘cê diz que sou bonito!

- Ai rapaz, não há quem te compreenda, criatura! – ela deu-lhe um beijo de obrigado estremecendo o rapaz, mas ela novamente, nem reparou – Bem, já ficamos conversados! Eu até te mostrava uns esboços que ando a fazer mas quero ser um bocadinho mazinha e não vou mostrar. E vou expulsar-te da minha casa! – enquanto o empurrava em direcção á porta com algum custo  

- E que horas é que ‘cê quer que te venha buscá logo à noite?

- Logo à noite? – perguntou surpresa –  Não me lembro de termos combinado alguma coisa!

- ‘Cê já se esqueceu do maravilhoso jantar que vamos ter em casa do Manz? Ele vai apresentá a namorada oficialmente! – assim que ele avivou a memória de Madalena, logo se lembrou do jantar maravilha em casa do Ruben

- A pois é! Já me esquecia…olha vem-me buscar por volta das 19:30 pode ser? É que assim ainda tenho uma conversa séria com o menino Ruben e aproveito e conto-lhe a novidade da pintura!

- Por mim ok! Até já!

- Até já!

Obrigada pelos comentários!
Espero que gostem!

terça-feira, 11 de outubro de 2011

1º capitulo - A nova pintura (Parte I)



O cheiro que sentia de cada vez que inspirava bem forte, fazia-lhe entrar num novo mundo, numa nova dimensão. Tudo em seu redor era novo, os edifícios, as ruas, o simples som dos pássaros, a ténue neblina que se erguia por detrás dos edifícios novos e que tinham um aspecto brilhantemente entusiasmante. Por ela passavam grupos de jovem que falavam alegremente enquanto outros passavam menos felizes, e ainda havia alguns sozinhos mas contentes. Olhou para a imensidão do jardim e assustou-se com a grandiosidade do tal passeio de relva que estava pregado ao chão até ao cimo de um edifício rústico. Um friozinho na barriga manifestou-se e finalmente o medo começou a percorrer-lhe as veias, era tudo demasiado novo, tinha receio de não conseguir cumprir o ultimo desejo da sua falecida avó, o de conseguir terminar a licenciatura em Direito. Sem dar por isso um grupo de alunos mais velhos já estavam à sua volta, olhou para o céu e pediu protecção á avó. Ela tinha novamente conseguido voltar a sorrir…

Depois de andar a fazer figuras engraçadas com mais umas centenas de alunos que desconhecia por completo e a gritar feita maluquinha em redor da faculdade, finalmente conseguiu ter uma conversa decente com mais de duas frases fluidas com uma das suas novas colegas da faculdade.

- Bem, se for assim toda a semana acho que não consigo mexer-me na sexta-feira – disse uma rapariga que caiu estafada no jardim esplendoroso da faculdade – já não posso com os meus pezinhos!

- Lamento desiludir-te mas acho que não tens muita sorte! Vai ser a semaninha inteira a fazer estas correrias! – ao mesmo tempo que se sentava ao lado dela – Já agora, eu sou a Madalena e tu?

- Sou a Inês! Tenho dezoito anos e estou completamente apavorada com os nossos próximos quatro anos! – desabafou estourada com tamanha correria que tinha sido submetida a fazer

- És tu e eu! – a pressão daqueles quatro anos só agora estava a começar e já estava a deixar mossa no corpo de ambas – Mas tem-se que pensar positivo, é o novo ciclo das nossas vidas! Por isso é levantar a cabeça porque daqui a quatro anos, espero, estaremos formadas!

- Tens toda a razão! – um som estranho proveniente do estômago da Inês foi bem audível – acho que preciso urgentemente de comida! – as duas levantaram-se e saíram da faculdade para comerem qualquer coisa – Vens de onde?

- Venho do Campo Grande, tenho dezassete quase dezoito aninhos! Faço-os daqui a uma semana! – por muito que desejasse aquele aniversário, ela sabia que não iria conseguir celebrá-lo com a pessoa mais importante da sua vida

- Bem, então vai haver uma festa digna de se ver! – Madalena nunca gostara de festas de aniversário porque achava que essas mesmas festas eram só uma fantochada, não gostava de convidar as pessoas que gostava e estas sentirem a obrigação de lhe darem presentes.  

- A sério, eu não quero nada de especial! Além disso os dezoito anos não são assim tão especiais quanto isso! Apenas quer dizer que estou a ficar velha e que a partir de agora já posso ir presa! – disse-o com um sorriso irónico, não queria desvendar para já parte importante da sua vida

- Hum…há aí coisa! – Inês percebeu que haveria algo mais por detrás daquela opção, mas decidiu não pressionar mais – Mas deixa lá, realmente é um desperdício de dinheiro em tempos de crise! – Madalena sorriu e deixou-se ficar mais tranquila   

(…)

Depois do primeiro dia de faculdade superado, Madalena voltou para a casa sorridente e com a primeira parte do prometido realizado. Agora só faltava a parte mais difícil, acabá-lo. A casa, que anteriormente era cheia de vida, agora dava lugar a um mero espaço entre quatro paredes sem qualquer sentimento. A única divisão da casa aonde se pudesse dizer que havia vida era o seu quarto coberto por pinturas desenhadas pelas suas próprias mãos. Madalena descalçou-se e dirigiu-se para a cozinha para beber um copo de água, o mesmo copo que utiliza sempre que chega a casa.

Flashback on

(Madalena)

- ‘Cê tem que reagir, ficar desse jeito não vai levar você a lado algum! – ele continuava a insistir para eu voltar a pintar mas eu não conseguia, por muito que tentasse, por muito que quisesse, eu não conseguia, simplesmente não conseguia – por favor! Faça isso por mim…só um simples retrato! Eu sei que não sou lindo como você mas acho que também sirvo como modelo!

- Tu não compreendes…a minha avó morreu enquanto estava a pintar, enquanto me divertia, enquanto me abstraia do mundo e vê o resultado! Abstrai-me em demasia e fiquei horas a pintar enquanto a minha avó precisava de mim – a dor era demasiado dolorosa para o meu corpo frágil aguentar, tinha acabado de perder a única pessoa da minha família que se importava comigo. Estava oficialmente órfã, sem ninguém, apenas rodeada por solidão e sofrimento.

- Olha p’ra mim… - ele fez-me olhar para ele – ‘cê não teve culpa do que aconteceu, foi o destino…foi assim que Deus quis e é por algum motivo! Sei que não é fácil p’ra você aceitar o que aconteceu mas sua avó não iria gostar de ver você desse jeito…

- Qual jeito? – levantei-me a custo da cama e dei um salto – não vês que estou óptima e esplendorosa! – dei duas voltas – vês? Mais alegre não podia estar!!!

- Madalena… - ele levantou-se e abraçou-me, senti uma descarga emocional de tal ordem que comecei a chorar sem notar. Num ápice já tinha a minha cara cheia de lágrimas e a t-shirt do David húmida. O meu corpo desfalecia aos poucos e poucos com o desgaste do vazio em que se encontrava o meu coração.

- Eu não tenho ninguém…. – desabafei ainda colada ao corpo do David – Toda a gente me abandona, os meus pais, agora a minha avó…aliás, os meus pais nem sequer quiseram saber como era. Sou um fardo para o mundo….

- ‘Cê não diga isso nem a brincar! Não é um fardo p’ra ninguém…além disso eu ‘tou com você sempre ouviu? – abanei afirmativamente – quero ouvir da sua boca um sim!

- Sim! 

Flashback off

Será que ele tem razão e estou-me a enterrar cada vez mais num sofrimento que não mereço…

Madalena saiu da cozinha e subiu até ao seu quarto. Assim que entrou foi até ao canto esquerdo do quarto e destapou o quadro que outrora começara a pintar. Não via aquele quadro desde o dia da morte da avó e esse momento trouxe-lhe recordações que a magoavam. Mas mesmo assim, quis mudar o destino que pensara ser o seu, tirou de uma gaveta do fundo da cómoda o estojo dos pincéis e preparou-se para acabar de pintar o quadro. Nesse mesmo instante olhou para as paredes do quarto e logo de seguida para o quadro inacabado. Percebeu finalmente que não poderia terminar o quadro mas sim começar algo de novo porque o quadro, afinal de contas, representava uma vida acabada.

Acho que finalmente percebi o que o David me queria dizer, preciso mesmo de mudar esta casa e de pôr toda a minha criatividade em acção. Por isso Madalena Alves, mãos ás obras!

Correu até ao telemóvel e procurou na sua lista de contactos o seu grande amigo, David. Assim que o nome dele apareceu no visor apressou-se a carregar no botão para chamar.

- Oi oi! – disse-o rapidamente assim que ouviu a chamada a ser atendida – David, estás a ouvir-me? – do outro lado da linha estava um bocado difícil de ouvir o que a Madalena dizia porque ele se encontrava no centro comercial juntamente com o Ruben

- Sim! Passou algo? – ele afastou-se um pouco da barulheira que provinha de um restaurante

- Não não, está descansado! Mas tenho uma novidade para ti, acho que vais gostar! Podes passar por minha casa?

- Claro. Vou já p’ra aí!

- Até já!

Depois de desligar a chamada, David ficou a olhar perplexo para o telemóvel sem perceber qual seria a novidade que ela teria para dar. Voltou para junto do amigo que estava mesmo em frente a uma montra de uma ourivesaria.

- Mano, achas que ela ia gostar de um relógio? – na montra estava um relógio que tinha mesmo a cara da Madalena mas Ruben estava indeciso sobre qual seria o melhor presente de aniversário – Ouviste a minha pergunta oh?

- Não precisa de repetir não, eu ouvi bem! – ele olhou para o relógio e abanou negativamente a cabeça – ela já tem relógios a mais, seria mais um p’ra colecção dela. Tem que ser algo diferente…

- Achas? – David disse que sim e por isso seguiram viagem até á próxima loja – O aniversário dela é já para a semana e não acredito que ainda não conseguimos compra-lhe uma prenda!

- Eu sempre disse p’ra gente ir indo ver qual seria a prenda mas ‘cê achou que seria fácil encontrar o presente ideal… - resmungou mas no mesmo instante vislumbrou uma mala preta que também tinha a cara dela – e aquela mala? Qué que ‘cê acha?

- Mala? Nem pensar…se ela tem relógios aos montes então malas nem se fala! Esquece…temos de pensar noutra coisa! – ambos já começavam a desesperar porque não tinham ideias sobre o comprar. Entretanto já era tarde e tiveram que sair do centro comercial mas quando estavam a chegar ao carro, Ruben teve uma ideia brilhante – já sei o que lhe vamos oferecer!!


Personagens

Madalena Alves - jovem de dezassete anos, foi abandonada pelos pais ainda em recém-nascida e foi acolhida pela avó materna que cuidou dela como se fosse a sua filha. Adora pintar e o maior sonho dela é ser advogada e jornalista. Anda sempre alegre e sorridente porque foi uma maneira de camuflar a tristeza de ter vivido sem conhecer os seus pais.

Inês Rodrigues - jovem de dezoito anos, colega de curso da Madalena e vai-se transformar numa das pessoas mais importantes para Madalena. É uma jovem determinada mas tem um passado que a persegue e que não a deixa ser feliz.

Rúben Amorim
David Luiz