terça-feira, 11 de outubro de 2011

1º capitulo - A nova pintura (Parte I)



O cheiro que sentia de cada vez que inspirava bem forte, fazia-lhe entrar num novo mundo, numa nova dimensão. Tudo em seu redor era novo, os edifícios, as ruas, o simples som dos pássaros, a ténue neblina que se erguia por detrás dos edifícios novos e que tinham um aspecto brilhantemente entusiasmante. Por ela passavam grupos de jovem que falavam alegremente enquanto outros passavam menos felizes, e ainda havia alguns sozinhos mas contentes. Olhou para a imensidão do jardim e assustou-se com a grandiosidade do tal passeio de relva que estava pregado ao chão até ao cimo de um edifício rústico. Um friozinho na barriga manifestou-se e finalmente o medo começou a percorrer-lhe as veias, era tudo demasiado novo, tinha receio de não conseguir cumprir o ultimo desejo da sua falecida avó, o de conseguir terminar a licenciatura em Direito. Sem dar por isso um grupo de alunos mais velhos já estavam à sua volta, olhou para o céu e pediu protecção á avó. Ela tinha novamente conseguido voltar a sorrir…

Depois de andar a fazer figuras engraçadas com mais umas centenas de alunos que desconhecia por completo e a gritar feita maluquinha em redor da faculdade, finalmente conseguiu ter uma conversa decente com mais de duas frases fluidas com uma das suas novas colegas da faculdade.

- Bem, se for assim toda a semana acho que não consigo mexer-me na sexta-feira – disse uma rapariga que caiu estafada no jardim esplendoroso da faculdade – já não posso com os meus pezinhos!

- Lamento desiludir-te mas acho que não tens muita sorte! Vai ser a semaninha inteira a fazer estas correrias! – ao mesmo tempo que se sentava ao lado dela – Já agora, eu sou a Madalena e tu?

- Sou a Inês! Tenho dezoito anos e estou completamente apavorada com os nossos próximos quatro anos! – desabafou estourada com tamanha correria que tinha sido submetida a fazer

- És tu e eu! – a pressão daqueles quatro anos só agora estava a começar e já estava a deixar mossa no corpo de ambas – Mas tem-se que pensar positivo, é o novo ciclo das nossas vidas! Por isso é levantar a cabeça porque daqui a quatro anos, espero, estaremos formadas!

- Tens toda a razão! – um som estranho proveniente do estômago da Inês foi bem audível – acho que preciso urgentemente de comida! – as duas levantaram-se e saíram da faculdade para comerem qualquer coisa – Vens de onde?

- Venho do Campo Grande, tenho dezassete quase dezoito aninhos! Faço-os daqui a uma semana! – por muito que desejasse aquele aniversário, ela sabia que não iria conseguir celebrá-lo com a pessoa mais importante da sua vida

- Bem, então vai haver uma festa digna de se ver! – Madalena nunca gostara de festas de aniversário porque achava que essas mesmas festas eram só uma fantochada, não gostava de convidar as pessoas que gostava e estas sentirem a obrigação de lhe darem presentes.  

- A sério, eu não quero nada de especial! Além disso os dezoito anos não são assim tão especiais quanto isso! Apenas quer dizer que estou a ficar velha e que a partir de agora já posso ir presa! – disse-o com um sorriso irónico, não queria desvendar para já parte importante da sua vida

- Hum…há aí coisa! – Inês percebeu que haveria algo mais por detrás daquela opção, mas decidiu não pressionar mais – Mas deixa lá, realmente é um desperdício de dinheiro em tempos de crise! – Madalena sorriu e deixou-se ficar mais tranquila   

(…)

Depois do primeiro dia de faculdade superado, Madalena voltou para a casa sorridente e com a primeira parte do prometido realizado. Agora só faltava a parte mais difícil, acabá-lo. A casa, que anteriormente era cheia de vida, agora dava lugar a um mero espaço entre quatro paredes sem qualquer sentimento. A única divisão da casa aonde se pudesse dizer que havia vida era o seu quarto coberto por pinturas desenhadas pelas suas próprias mãos. Madalena descalçou-se e dirigiu-se para a cozinha para beber um copo de água, o mesmo copo que utiliza sempre que chega a casa.

Flashback on

(Madalena)

- ‘Cê tem que reagir, ficar desse jeito não vai levar você a lado algum! – ele continuava a insistir para eu voltar a pintar mas eu não conseguia, por muito que tentasse, por muito que quisesse, eu não conseguia, simplesmente não conseguia – por favor! Faça isso por mim…só um simples retrato! Eu sei que não sou lindo como você mas acho que também sirvo como modelo!

- Tu não compreendes…a minha avó morreu enquanto estava a pintar, enquanto me divertia, enquanto me abstraia do mundo e vê o resultado! Abstrai-me em demasia e fiquei horas a pintar enquanto a minha avó precisava de mim – a dor era demasiado dolorosa para o meu corpo frágil aguentar, tinha acabado de perder a única pessoa da minha família que se importava comigo. Estava oficialmente órfã, sem ninguém, apenas rodeada por solidão e sofrimento.

- Olha p’ra mim… - ele fez-me olhar para ele – ‘cê não teve culpa do que aconteceu, foi o destino…foi assim que Deus quis e é por algum motivo! Sei que não é fácil p’ra você aceitar o que aconteceu mas sua avó não iria gostar de ver você desse jeito…

- Qual jeito? – levantei-me a custo da cama e dei um salto – não vês que estou óptima e esplendorosa! – dei duas voltas – vês? Mais alegre não podia estar!!!

- Madalena… - ele levantou-se e abraçou-me, senti uma descarga emocional de tal ordem que comecei a chorar sem notar. Num ápice já tinha a minha cara cheia de lágrimas e a t-shirt do David húmida. O meu corpo desfalecia aos poucos e poucos com o desgaste do vazio em que se encontrava o meu coração.

- Eu não tenho ninguém…. – desabafei ainda colada ao corpo do David – Toda a gente me abandona, os meus pais, agora a minha avó…aliás, os meus pais nem sequer quiseram saber como era. Sou um fardo para o mundo….

- ‘Cê não diga isso nem a brincar! Não é um fardo p’ra ninguém…além disso eu ‘tou com você sempre ouviu? – abanei afirmativamente – quero ouvir da sua boca um sim!

- Sim! 

Flashback off

Será que ele tem razão e estou-me a enterrar cada vez mais num sofrimento que não mereço…

Madalena saiu da cozinha e subiu até ao seu quarto. Assim que entrou foi até ao canto esquerdo do quarto e destapou o quadro que outrora começara a pintar. Não via aquele quadro desde o dia da morte da avó e esse momento trouxe-lhe recordações que a magoavam. Mas mesmo assim, quis mudar o destino que pensara ser o seu, tirou de uma gaveta do fundo da cómoda o estojo dos pincéis e preparou-se para acabar de pintar o quadro. Nesse mesmo instante olhou para as paredes do quarto e logo de seguida para o quadro inacabado. Percebeu finalmente que não poderia terminar o quadro mas sim começar algo de novo porque o quadro, afinal de contas, representava uma vida acabada.

Acho que finalmente percebi o que o David me queria dizer, preciso mesmo de mudar esta casa e de pôr toda a minha criatividade em acção. Por isso Madalena Alves, mãos ás obras!

Correu até ao telemóvel e procurou na sua lista de contactos o seu grande amigo, David. Assim que o nome dele apareceu no visor apressou-se a carregar no botão para chamar.

- Oi oi! – disse-o rapidamente assim que ouviu a chamada a ser atendida – David, estás a ouvir-me? – do outro lado da linha estava um bocado difícil de ouvir o que a Madalena dizia porque ele se encontrava no centro comercial juntamente com o Ruben

- Sim! Passou algo? – ele afastou-se um pouco da barulheira que provinha de um restaurante

- Não não, está descansado! Mas tenho uma novidade para ti, acho que vais gostar! Podes passar por minha casa?

- Claro. Vou já p’ra aí!

- Até já!

Depois de desligar a chamada, David ficou a olhar perplexo para o telemóvel sem perceber qual seria a novidade que ela teria para dar. Voltou para junto do amigo que estava mesmo em frente a uma montra de uma ourivesaria.

- Mano, achas que ela ia gostar de um relógio? – na montra estava um relógio que tinha mesmo a cara da Madalena mas Ruben estava indeciso sobre qual seria o melhor presente de aniversário – Ouviste a minha pergunta oh?

- Não precisa de repetir não, eu ouvi bem! – ele olhou para o relógio e abanou negativamente a cabeça – ela já tem relógios a mais, seria mais um p’ra colecção dela. Tem que ser algo diferente…

- Achas? – David disse que sim e por isso seguiram viagem até á próxima loja – O aniversário dela é já para a semana e não acredito que ainda não conseguimos compra-lhe uma prenda!

- Eu sempre disse p’ra gente ir indo ver qual seria a prenda mas ‘cê achou que seria fácil encontrar o presente ideal… - resmungou mas no mesmo instante vislumbrou uma mala preta que também tinha a cara dela – e aquela mala? Qué que ‘cê acha?

- Mala? Nem pensar…se ela tem relógios aos montes então malas nem se fala! Esquece…temos de pensar noutra coisa! – ambos já começavam a desesperar porque não tinham ideias sobre o comprar. Entretanto já era tarde e tiveram que sair do centro comercial mas quando estavam a chegar ao carro, Ruben teve uma ideia brilhante – já sei o que lhe vamos oferecer!!


2 comentários:

  1. Olá Débora!
    Primeiro de tudo obrigada pelo comentário!

    Este 1º capitulo deixou-me cheia de expectativas! Adorei mesmo :)

    Quando postas o próximo? Estou ansiosa :D
    Beijinhos
    Ana Sousa

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  2. Olá Débora!!

    Gostei muito do 1º capitulo e fico na expectativa de mais!

    Também comecei nos últimos dias a publicação da minha fic, se quiseres passar por lá http://mariaainwonderland.blogspot.com/

    Bjokinhas
    Mariaa

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