segunda-feira, 17 de outubro de 2011

1º capitulo - A nova pintura (Parte II)




Madalena andava entusiasmada com a nova perspectiva de vida. Ideias imergiam a um ritmo frenético na sua cabeça para as paredes da sala, com tamanha informação já a circular pegou rapidamente no seu caderno de desenho e pôs as ideias no papel. Em poucos minutos já tinha uma dúzia de folhas completamente preenchidas e ainda a magicar ideias novas. Tudo lhe saia com uma naturalidade que nem ela se apercebia da rapidez que desenhava. Enquanto isso, David e Ruben iam a discutir a caminho dos treinos a prenda para a Madalena.

- Já disse que ela vai gostar! Conheço-a tão bem como a palma da minha mão! – Ruben gesticulou com os braços mas o David não pode ver porque estava a conduzir – ouve o que te digo, ela vai gostar!

- Manz, ‘cê não tá percebendo nada do que estou dizendo! – disse frustrado com a tamanha lentidão de compreensão do amigo – Eu sei que ela vai gostá, mas não é esse o problema! Ela nunca irá aceitá a prenda…

- Pode não aceitar á primeira mas aceita á segunda…ou á terceira – Ruben também estava um pouco reticente mas queria arriscar á mesma o presente – Ela merece isso e muito mais…já sofreu demais para apenas dezoito anos! 

- Não sei…a gente pode ainda pensar noutra coisa! – tentou mais uma vez dissuadir o amigo mas foi inútil

- Confia em mim, ela vai amar! E tu? Já te decidiste se lhe vais dar o que compraste no outro dia? – David demorou um pouco a responder por isso entreviu rapidamente – pronto, não precisas de responder porque já sei a tua resposta!

- Como ‘cê sabe? P’ra sua informação vou lhe dar sim!

- A sério? Bem até que enfim que te decidiste… - Ruben fez uma pausa antes de prosseguir - …e vais finalmente assumir o que sentes ou isso ainda vai esperar para depois? – Rúben tinha á pouco tempo descoberto a paixão secreta do David pela Madalena, algo que suspeitava mas nunca pensou que fosse verdade.

- Manz ‘cê tá louco? Claro que não…ainda nem sei como é que lhe vou entregá o presente quanto mais falá!

- Estás a gozar comigo certo? – a expressão do Ruben era de uma evidente desilusão, embora não soubesse se o amor era correspondido ao não, preferia ver o amigo a arriscar do que a ficar simplesmente a observar – Eu desisto! Se não queres dizer não digas! Mas se depois ela arranjar um namorado não venhas para cima de mim queixares-te de que devias ter dito alguma coisa! – David nem respondeu, estava demasiado inseguro, não com o que sentia porque isso já era bastante óbvio, mas sim com a reacção da Madalena.

Enquanto eles estavam nos treinos a Madalena foi até ao Estádio da Luz para tratar do contracto que iria assinar para trabalhar na Benfica TV. Iria fazer trabalho de jornalismo em especial incidência, com a equipa de futebol aonde iria seguir a equipa para todo o lado. Embora a sua avó no inicio não tenha achado grande piada ao facto de ir aparecer na televisão, acabou por concordar. Depois de tratar de todos os pormenores voltou para casa e ficou á espera dele.

Flashback on

(Madalena)

Estava a desenhar umas coisitas para a prenda do David quando me assombram inquietações sobre os meus pais. Por muito que tentasse perdoar os meus pais para nunca mais pensar neles, eis que dúvidas e pesadelos me tornam tão pequenina que só me apetece desaparecer. Desta vez, as dúvidas recaíam sobre o meu talento para o desenho, perguntas como “será que a minha mãe ou o meu pai também têm este talento?” ou “será que eles são pintores?”. Mais uma vez, tinha inúmeras perguntas sem direito a respostas. Por muito que tentasse “espremer” a minha avó ela não se “descosia” e acaba sempre por dizer “quando chegar a altura logo saberás!”. Mas será que eu não tinha o direito de pelo menos ter algumas notícias sobre os meus progenitores? E ao mesmo tempo tinha receio de descobrir algo que me pudesse magoar, algo que a minha avó tentava esconder a todo o custo. Mesmo assim deixei-me levar pela curiosidade e fui tentar obter resposta.

- Avó? – bati á porta do quarto dela e do outro lado ouvi um “sim” abrindo de imediato a porta – Como está? Humm…estou a ver que anda a fazer das suas! – a minha avó sempre gostou de escrever e naquele preciso momento estava a ter um dos seus “devaneios artísticos”, como ela gosta de chamar.

- Não digas tolices! Achas que uma pessoa com a minha idade pode fazer malandragens? – ela sorria como sempre o fazia mas desta vez com um sorriso malandro. Tinha pousado o lápis e concentrou toda a sua atenção na minha pessoa

- Com certeza! Nunca pensaria tal coisa de si! – sentei-me na beira da cama de forma a poder vê-la – ham…tive a pensar…aliás, tive a pintar e…sabe acha que me pode contar se…bem… - por muito que tentasse encontrar as palavras ideais para falar sobre os meus pais parecia que nenhuma era suficientemente elucidativa do que estava a sentir. Por vezes as palavras tomavam valores sentimentais que não eram aqueles que queria demonstrar e por vezes, mostravam um lado mais frio que não era de todo, o que sentia – Eu só queria saber se me pode dizer se os meus pais têm a mesma paixão pela pintura que eu… - os olhos da minha avó mostravam que ela já estava á espera do tema da conversa, e acima de tudo, já sabia quais eram as perguntas que flutuavam na minha mente. Ela levantou-se da sua cadeira e foi-se sentar ao meu lado, abraçou-me e depois de alguns minutos de silêncio, finalmente falou.

- Perguntei-me várias vezes quando é que me irias perguntar isso…até demoraste mais tempo do que estava á espera. Penso que foi por causa do medo que tens em descobrir seja o que for… - ela voltou a levantar-se mas desta vez dirigiu-se até á janela do quanto, dava para ver nos seus olhos que aquele assunto a magoava muito e fez-me sentir muito mal por trazer más recordações

- Desculpe…não precisa de responder! Eu é que sou uma parva…ainda sonho com parvoíces que sei que nunca se irão recordar!

- Tu não tens culpa… - ela olhou para mim com os olhos vidrados – a tua mãe…a tua mãe tem um jeito natural para o desenho como tu o tens! – quando a minha avó prenunciou o nome da minha mãe, uma alegria inexplicável invadiu o meu coração. Vezes sem contas pensava no que teria em comum com os meus progenitores, as fotografias que tinha deles eram meramente um vislumbre de algo que queria muito ao meu lado.

- A sério? – finalmente conseguia algo da boca da minha avó sem ser “quando for a altura de saber saberás!”. Toda aquela excitação levou-me a perguntar mais coisas… - E como é que eles estão…? – a minha avó olhou para mim e logo percebi que não iria saber mais nada

- Quando fizeres os dezoito anos vais ter todas as respostas para as tuas perguntas – já esperava por respostas à demasiado tempo, e isso estava a deixar-me os nervos em franja com tamanho secretismo –  Só quero que me prometas uma coisa…

- O quê avó?

- Que perdoes os teus pais…. – era a primeira vez que ela falava em tal coisa em dezassete anos da minha existência. Percebi de imediato que ela queria muito que eu fosse feliz e acima de tudo, que não tivesse problemas com o passado - Eu sei que não existe nenhuma justificação possível para o que fizeram mas…

- Eu sei avó… - ouvir, sequer, falar em perdoar duas pessoas que me fizeram sofrer durante toda a minha vida, estava longe de se concretizar. Por muito que, por vezes seja atacada por uma vontade louca de saber como eles são, o que fazem, se estão bem, tudo isso não passa disso mesmo, de um simples momento. Depois desse momento é só raiva e frustração… - lamento mas não o consigo fazer. Seja qual fores as justificações que tenham, um filho é sempre um filho, um ser humano por quem eles deviam ter tido mais consideração quando decidiram abandona-lo no mundo!

Flashback off

A campainha estava a tocar e fê-la despertar para a realidade, saltou do sofá e foi abrir a porta de casa. Á sua porta encontrava-se já o David que estava há um bom bocado à espera que a Madalena abrisse a porta.

- Já ‘tava aqui á um tempão a tocar! – resmungou sorrindo ao mesmo tempo que entrava dentro de casa. Madalena ainda estava meia aluada com os seus pensamentos transparecendo alguma insegurança para fora  – aconteceu algo?

- Não não! – elevou as mãos à cara numa tentativa de a fazer acordar daquelas memórias passadas – Estava só no meu momento de pairar na Lua! Desculpa… - ela fez uns olhinhos de arrependida levando quase à loucura os sentimentos do David

- Só desculpo com uma condição… - deixando a Madalena completamente curiosa – ‘cê tem que me dar um grande beijão!

- Olha-me este! Hoje estás muito mimoso mas está bem! – ela pôs-se em biquinhos de pés para conseguir chegar até ele mas o David estava virado para a brincadeira e por muito que a Madalena tentasse, não conseguia chegar ao rosto dele – olha lá oh grandalhão! Foste tu que pediste o beijo não eu! – ele para a fazer parar pega nela ao colo fazendo-a resmungar – põe-me no chão David!! Hoje estás mesmo chatinho!

- ‘Cê não me consegue resistir moça! – ele pô-la no sofá da sala e deu-lhe um beijo na testa – então qual é o assunto assim tão urgente?

- Agora já não sei se te quero contar, se calhar vou ligar ao Ruben e conte-lhe primeiro! – Madalena levantou-se do sofá e dirigiu-se até ao telemóvel no intuito de telefonar ao Ruben mas foi interrompida pelo David

- Vai, conta p’ra mim! Tou a pedir… - ela olhou para ele e acabou por ceder ao pedido do amigo que tão lhe carinhosamente lhe pedia para contar o segredo

-  Vou voltar a pintar!!! – disse-o com um enorme sorriso nos lábios

- A sério? – David ainda estava meio aparvalhado com a novidade, o que mais queria era poder voltar a vê-la desenhar novamente. Por momentos formou-se um enorme silencio devido à felicidade e espanto do David mas pouco tempo depois, já ciente da excelente novidade, falou –  Tou tão contentão que nem sei o que diga! Anda cá moça!

Madalena rendeu-se ao abraço dele e pela primeira vez sentiu algo que não estava á espera. A sua cabeça estava no peito do David devido à diferença de alturas ser bastante considerável, e estava a sentir os batimentos do coração bastante mais acelerados do que era habitual para ele. Passou-lhe por momentos na mente, que ele pudesse sentir mais alguma coisa, e o seu coração reagiu de imediato aquele pensamento aumentando drasticamente os batimentos cardíacos e ficando bastante corada. Tão depressa aqueles pensamentos apareceram como os fez desaparecer mas o seu coração não acalmava. Afastou-se um pouco dele e olhou-o nos olhos, algo estava diferente, via um brilho diferente, algo que nunca tinha visto ou sentido. Afastou-se de vez e tentou tirar aquelas ideias absurdas da cabeça. Enquanto as dúvidas eram implantadas na mente de Madalena, David continuava a desfrutar do máximo tempo que podia estar com ela ao mesmo tempo que lutava contra o seu interior, de a poder beijar, de poder dizer-lhe tudo o que sentia. Acima de tudo, tinha medo do desconhecido, tinha medo de estar a embarcar em algo que era só fruto da sau imaginação e perder a pessoa mais importante da sua vida.

-  E o que ‘cê vai pintar primeiro?

- Tu! – respondeu ainda um pouco atordoada mas depressa voltou ao estado normal – Isso mesmo, tu senhor David!

- Porquê eu?

- Em primeiro lugar porque o Ruben ficaria demasiado convencido se fosse ele o primeiro, além disso não lhe quero arranjar problemas com a namorada nova! Em segundo porque quero que sejas tu! Em terceiro porque eu quero-te a ti. Em quarto porque és tu…espera, essa já repeti…ham…porque sim e pronto! Aceitas ou não? – David estava extasiado com a possibilidade de ser pintando por ela

- Só com uma condição! ‘Cê tem que me por bonitão ouviu? – ao mesmo tempo que lhe apertava as bochechas, algo que Madalena odiava – senão não deixo!

- Que gracinha senhor David! – ao mesmo tempo que desembaraçava das suas bochechas as mãos dele - Tu já és bonito de natureza, nasceu contigo, por isso é praticamente impossível fazer-te parecer feio!

- ‘Cê não pode dizer uma coisa dessas assim…eu fico sem jeito e todo vermelhão! – David tinha corado mas Madalena nem se tinha apercebido

- Por amor á Santíssima! Tu deves ouvir elogios de milhares de fãs todos os dias, a todos os minutos, por isso não disse nada de mais, só aquilo que ouves constantemente! Mas se te incomoda eu começo a achar-te feio o que me dizes?

- Isso também não quero! Gosto quando ‘cê diz que sou bonito!

- Ai rapaz, não há quem te compreenda, criatura! – ela deu-lhe um beijo de obrigado estremecendo o rapaz, mas ela novamente, nem reparou – Bem, já ficamos conversados! Eu até te mostrava uns esboços que ando a fazer mas quero ser um bocadinho mazinha e não vou mostrar. E vou expulsar-te da minha casa! – enquanto o empurrava em direcção á porta com algum custo  

- E que horas é que ‘cê quer que te venha buscá logo à noite?

- Logo à noite? – perguntou surpresa –  Não me lembro de termos combinado alguma coisa!

- ‘Cê já se esqueceu do maravilhoso jantar que vamos ter em casa do Manz? Ele vai apresentá a namorada oficialmente! – assim que ele avivou a memória de Madalena, logo se lembrou do jantar maravilha em casa do Ruben

- A pois é! Já me esquecia…olha vem-me buscar por volta das 19:30 pode ser? É que assim ainda tenho uma conversa séria com o menino Ruben e aproveito e conto-lhe a novidade da pintura!

- Por mim ok! Até já!

- Até já!

Obrigada pelos comentários!
Espero que gostem!

3 comentários:

  1. Ola ola ola !
    AMEI :D
    Com apenas estes dois capítulos deixaste-me presa a esta história. Quero ver o próximo!
    Espero que seja rapidinho :x
    Beijinho
    Ana Sousa
    http://respirarde23.blogspot.com

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  2. Desde o 1º capitulo que estou rendia!
    Adoro!
    Quero mais! :D

    http://mariaainwonderland.blogspot.com

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